segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Basta viver!

Quantas vezes precisamos sentar e contemplar a lua para um diálogo de adultos? Sentar na escada e ter um minuto de silêncio. Há muito tempo que preciso disso. Há muito tempo que não ganho, não perco. Estou atado numa espécie de silêncio complacente e inquieto, diante do mundo, diante das coisas que parecem paradas no tempo e no espaço. Tenho pouco a dizer, porque as vezes falamos sem roteiro. O que tenho a dizer não é íntimo nem grave, não é passado nem futuro, simplesmente não existe. Não quero falar nada, nem nada compartilhar. Quero apenas estar aqui, me fazer presente neste mundo. Quero apenas, num espasmo antes de tudo egoísta, mas profundamente humano, me apagar num gozo flácido de mim mesmo, intruso na comédia social, nesse apagamento, que só pode acontecer sob a égide de uma participação meticulosa, coordenada, estratégica. Não basta ser, tem que participar, já dizia um comercial de remédio para contusões. Participar. É um jogo talvez fácil, mas consistente. Comparecer à cena para, dentro dela, poder fugir de tudo e de todos. Mas não de mim. É simples desse jeito. E é fácil demais. Basta dizer palavras comedidas. Basta dançar conforme a música, participar das festas, atender telefonemas. Basta ser cordial, cordata, referencial, batuta. Basta corresponder ao sorriso, pagar as contas, dizer obrigado e chorar no escuro. Basta não gritar. Basta não usar palavras em desuso. Basta cantar afinado, olhar direto e firme, usar roupas apropriadas, falar baixo e objetivamente, nunca chegar atrasado. Basta sorrir simpático e ser engraçado. Basta mentir. Basta nunca falar de coisas importantes ou difíceis. Basta se comportar, basta não obedecer regras, basta ter caráter e agir com amor. Basta viver!

Nenhum comentário:

Postar um comentário