quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O jogo de cores na Política Paraibana

É impressionante como as cores ganham "donos" em período eleitoral e geram tanta disputa e discórdia entre eleitores de algumas regiões. A utilização de cores nas campanhas políticas tornou-se um forte apelo visual pelo país, especialmente aqui no estado da Paraíba.
Os candidatos e seus partidos utilizam as cores, associados à diferentes ideologias políticas, como signo e símbolo de identificação. Não obstante, em ocasiões o uso de algumas cores fortalece uma segregação dos eleitores, torna a campanha tão acirrada que os eleitores transferem suas opiniões políticas em disputas pessoais.
Esta tradição sabemos não é recente e muito menos nasceu em nosso país. A história política mundial nos traz momentos e fatos fortemente ligados às cores e suas respectivas simbologias. As cores como o azul e o vermelho, por exemplo, estão entre as mais empregadas por sua associação à direita e esquerda política respectivamente. Esta tradição inclusive é mais antiga que a própria origem do conceito de esquerda-direita, originado na Revolução Francesa, pois se incluíam em uma expressão muito estendida para designar as diferenças sociais: a oposição entre sangue azul e sangue vermelho.
Na Paraíba, hoje, vivemos um momento intenso na disputa "laranja x vermelho". Até o dia 3 de outubro ainda testemunharemos um acirrado jogo de grupos políticos já tão conhecidos da população e que não apresenta nenhuma novidade, nenhum novo projetos ou plano de governo. Ficamos com as velhas promessas, com a propaganda de obras passadas que são vendidas como grandes feitos, quando na verdade não é mais do que a obrigação daquele que ocupa um cargo dado por nós.
Não temos a liberdade de sair nas ruas, sem caráter político, com uma camisa nas cores predominantes nesta campanha, que logo somos alvos de perguntas, criticas ou piadas. Que pena das cores! Roubaram delas o direito à liberdade e se tornaram propriedade daqueles que pleiteiam a "vida boa" de ser um político neste país.
Em dias de carreata ou passeata de algum grupo político é arriscado sair pelas ruas com uma camisa da cor do adversário, não sabemos o que pode acontecer, se um pedra será lançada em nossos carros ou mesmo seremos vitimas de gritos e vaias.
Você é vermelho ou laranja? Esta é a identidade que vem sendo tomada pelas ruas. Quantos eleitores já fizeram uma análise de quem está por trás de uma cor e outra? Quem hoje é vermelho um dia foi laranja e alguns laranjas agora já se cobriram de devoção pelo vermelho em outros tempos. Tudo bem que na escala de cores o vermelho e laranja não estão tão distantes, mas esta variação em tonalidades é de soar estranho. Ah, são os sinais de um tempo em quê não existe fidelidade, somos todos infiéis, até mesmo as cores. Malditas cores!
Meu desejo seria uma nova opção de cor nesta tabela já tão desbotada. Precisamos descobrir e reinventar novas formulações que gerem cores mais atrativas e benéficas à população do nosso estado. Enquanto isso não ocorre, ficamos vítimas de uma onda colorida que inflama nossos olhos e estampa pelas ruas de nossas cidades a nossa própria incompetência enquanto eleitores.
No final das contas somos nós que assumimos, por quatro anos, uma cor oficial, símbolo maior de nosso luto pós-eleições, o negro!


Kermerson Dias

5 comentários:

  1. Olá querido amigo, sua habilidade em escrever fascina mesmo, concordo com sua esplanação, infelizmente no final de tudo nós é que pagamos pela incoerência da escolha popular...na sua grande maioria comprada por tão pouco, por valores pequenos e a dignidade varrida como pó para debaixo do tapete... Espero que um dia nossos filhos encontrem um mundo melhor, com menos "cores" errantes para escolher porém com honestidade estampada.

    Aline Cabral

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  2. Sem contar que nesses "tempos" os assuntos mais tratados em rodas de conversas são justamente sobre tais cores, é realmente de encher o saco o fanatismo de alguns. Me mantenho nulo em relação a isso, afinal, nada melhor que uma camisa básica e branca pra andar no centro em dias de carreata/passeata. É verdade, querida Aline, nós que pagamos o preço pela escolha da maioria.

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  3. Fazia muito tempo que não lia um texto que tivesse o campo político como objeto de produção e simplesmente fosse capaz de ser literalmente imparcial. Trata-se de uma reflexão política em período eleitoral, mesmo assim você permanece neutro e trata de um tema que de fato nos é peculiar. Estamos mergulhados, voluntariamente ou não, neste mar de “duas” cores que você cita, cores estas que receberam uma nova identidade, perdendo na democracia sua liberdade. E nós, como as cores somos tomados por reféns dos políticos, não apenas no pleito, mas por tantos e tantos anos de mandatos. Sufocados e perturbados, pelo vermelho e laranja que se esforçam em nos provar à existência de diferenças entre eles, quando de fato não há. Batalha vã (Vã uma pinóia! Como você mesmo já destacou, buscam eles a boa vida) que facilmente engana o povo brasileiro. Parabéns pelo texto claro.

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  4. Excelente texto. Apesar de estar bem por fora do panorama da política paraibana, o mínimo que consigo captar reflete isso que você falou.

    "os eleitores transferem suas opiniões políticas em disputas pessoais" - Pura verdade.

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  5. Ótimo texto, principalmente por uma imparcialidade que não é encontrada nos demais postados na internet e em outros meios. Somos frutos de uma política escravizadora, onde os que conseguiram se beneficiar da "Lei Áurea" são privilegiados, pois sabem que após o apuramento da última urna fazeremos parte de um mesmo time que, querendo ou não, será nosso governo.

    Renato Cabral de Lima
    Administrador

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