sábado, 18 de dezembro de 2010

No cair da chuva...


Fazia tempo que Campina Grande não recebia uma chuva para lavar o espírito da cidade. Neste instante é noite, aliás, madrugada, e  faz frio gostoso em minha terra natal. A chuva cai fraquinha, mas  sem cessar, como se de um profundo pranto celestial se tratasse.
Como uma simples chuva muda o percurso e rotina de tantas pessoas! Algumas destas pessoas se abrigam e fogem à procura de calor e conforto em casas, outras buscam um recanto para acalentar-se. Algumas outras vêem a vida passar, como uma história que se faz por uma trilha sonora natural, com o cair dos pingos de chuva no telhado,  as paredes isolam muitas vezes o sofrimento da solidão e da saudade, ou dos sonhos esquecidos e a amargura de viver entre tanta gente, e ainda assim ter a sensação de solidão. Esta última podemos dizer que é uma angústia silenciosa. Uma chuva nos faz enxergar o mundo com outras perspectivas.
Amanhece em Campina. Não chove, mas a cidade parece estar em ressaca, um aspecto nublado que se manifesta no caminhar das pessoas pela rua. São passos sem identidade, dirijo pelas ruas e vejo em alguns passos de um futuro de pouca esperança. Um velho se distrai pela manhã jogando migalhas de pão aos pombos na praça; duas simpáticas senhoras a conversar na calçada como se, com uma melancólica recordação, lembrassem os tempos de mocidade para resgatar de alguma forma a emoção dos tempos de esperança e anseio pelo futuro. De outro lado um caminhar acelerado de jovens transitam como se o mundo fosse pequeno e com sentimento de “donos do mundo e de sua liberdade”. Eu passeio alheio ao tempo que a eles também irá cobrar.
Assim as horas passam, o dia corre, a vida continua A cidade vive de uma forma sonâmbula. Neste olhar de um dia cinza a gente vê  velhos que tanto lutaram  e hoje são esquecidos, os jovens não sabem o que querem, os governantes alheios aos verdadeiros problemas sociais, e a justiça à mercê dos que possuem o poder.  No final do dia levemente a chuva continua a cair. Mas deixa cair e lavar nossas ruas, becos, casas, corações, afinal água é vida!
E  viver é um sonho na qual a sua maior complexidade reside em nossas ações e na forma como encaramos tudo o que vemos e sentimos. Às vezes é preciso molhar-se e encarar o frio e o escuro do desconhecido. A vida é curta e uma só. E não existe o amanhã sem que você o comprove ao abrir os olhos no outro dia, não há garantias
E mesmo que meu outro dia seja novamente cinza vou sair às ruas, sorrir em plena manhã, desejar um “bom-dia” a alguém, pois este pequeno gesto pode fazer toda a diferença. É importante cultivas as palavras, isto poderá determinar a forma como correrá o dia de alguém. A chuva  muitas vezes lava muito mais nosso interior do que as calçadas de nossas casas.
 
 

4 comentários:

  1. Olá Amigo...

    Que bom ve-lo no meu blog de novo! Também gostei do novo visual do seu! Vou mudar o meu também! Querido, como sempre seus textos são fantásticos! Repletos de sensibilidade...Nos leva a refletir e viajar!

    Parabénsssss!

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  2. O poder da chuva é praticamente intranscritível. Como você muito bem retratrou, percebe-se que nossa cidade se transforma com esse presente que Deus nos deu: a chuva. Ótimo texto Kemerson, meus parabéns!

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  3. Adorei o novo visual do Blog! muito bom... O fundo preto com a fonte cor branca suaviza a leitura. Adorei também o texto "No cair da chuva". Como sempre a chuva é algo que nos inspira, que nos faz pará um pouco e pensar em nós mesmos, assim como o que está acontecendo a nossa volta ...

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  4. muito emotivo você é...

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