segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nas mãos...


Estes dias parei para observar um bebê, acredito que ele tinha uns seis meses, a criança acolhida pelos braços de sua mãe brincava em entusiasmo com sua própria mão, observava cada movimento dela e parecia ter descoberto algo surpreendente. Imagino que quando fui pequeno, minha mão também  foi uma das minhas primeiras descobertas. Imagino que não cansava de admirá-la, olhava, olhava e, quase nunca contentava só em fazer os movimentos, eu mordia ou sentia o toque de seus dedos pelo rosto. E à medida que o tempo foi passando, outras coisas começaram chamar minha atenção. Fui crescendo, e ela sempre acompanhando meu desenvolvimento. Lembro do ano em que me alfabetizei. Em casa, na presença dela, agia de uma forma. Quando chegava na escola, em meio a toda aquela molecada, parece que esquecia-me de como relacionar com ela bem e, então, a “tia” chamava-me a atenção. Ah...no meu aprendizado, contudo, ela sempre me foi aquela companheira inseparável. Não creio que foi só em função dela, mas os êxitos nas avaliações, nos estudos, nos esportes, nas representações em público, deve-se em grande parte à forma sábia que ela possibilitava-me agir. Passado o tempo a adolescência enfim chegou. Uma época de transições, de novas descobertas, de conflitos. E, mais uma vez, com meu jeito desajeitado de sempre, tive alguns conflitos com ela. Parece que ela não fazia bem o que eu pensava, parece que todos os seus atos iam de encontro às minhas idéias. Ela, que outrora fora minha fonte de equilíbrio, agora precisava pensar em como agir com ela e, ainda assim, divergíamos. Lembro de quantos não foram os desencontros que tivemos dentro e fora de casa, de quantos acidentes não cometi por causa dessas nossas divergências.  Esta fase, comum a todos nós, de alterações físicas, perturbações psicológicas, brincava, ficava sério, sorria, dava gargalhadas, chorava. Tudo muito confuso.
Agora, mais consciente, olho com “um olhar diferenciado”, de quem a percebe  como um apoio, um puxão de orelha, um afago, um carinho. Engraçado como ela detinha todas essas habilidades desde aquela época. Além dessas, como seria interessante prosear com ela! Como seria interessante ler os versos escritos por ela. Lembro agora que  Augusto dos Anjos, na intimidade do versos, descreveu suas facetas (das mãos). Dizia ele que, segundo o estado de espírito, ela pode afagar ou apedrejar.
 Realmente ele estava certo. Ela é muito poderosa, bastante peculiar. Minha primeira descoberta, companheira inseparável no meu desenvolvimento, fonte de atritos e acidentes na adolescência. Com ela pretendo continuar proseando e proseando, escrever versos pra vida toda que, ao coração, irá falar.

2 comentários:

  1. Não é à toa que grande parte do nosso cérebro é dedicada a ela. Seus movimentos finos, delicados, complexos... ela tantas vezes é nossa voz. Aponta, afaga, machuca, toca. E pode tocar fundo, a alma... Veja as mãos de quem ama. Quando se tocam, desenham o infinito.

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  2. Parabéns pelo texto, Kermerson!
    Vida de descobertas. Incrivel como temos coisas que nos pertecem que ainda não descobrimos o seu verdadeiro sentido. Nunca tinha parado pra pensar em relação as nossas mãos. Gostei mesmo!

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